terça-feira, 8 de janeiro de 2008

POR ENTRE OS ESPAÇOS SEGREGADOS

AUTOR: ELISEU PEREIRA DE BRITO

A fase compreendida entre a criação de Palmas em 1989 ao ano 2000 foi marcado por uma intensa propaganda de marketing urbano, possibilitando um crescimento de 28% ao ano. A população urbana de Palmas que em 1991 era de 17.499 habitantes (IBGE 1991), em 2000 chegou a ser de 130.528 habitantes (IBGE 2000) no espaço projetado da cidade. Um processo incitado pela excessiva exaltação do esplendor da nova capital no isolado antigo Norte Goiano, chegando até a vender ilusão pelo motivo de apresentar Palmas como um novo Eldorado dos Carajás, com grandes oportunidades, atraindo uma migração intensa principalmente, dos Estados do Maranhão, Piauí e Goiás e de cidades do interior do Estado.
Junto a este processo migratório, acompanhou a segregação socioeconômica, desencadeada principalmente, por dois fatores principais, um pelo estabelecimento de famílias que vieram aventurar a vida, e outra, por cidadãos que investiram dinheiro na aquisição de terras, mas, sem interesse em fixar residência no canteiro de obra.
O investimento privado realizado na cidade gerou uma aquisição desproporcional nas terras urbanas. A maioria destas adquiridas sem fins de moradia foram na área da primeira e segunda fase de ocupação da cidade, o que elevou de sobremaneira o preço dos imóveis e reservou extensas áreas vazias provocando os vazios urbanos nestas fases. Em contrapartida, os migrantes, trabalhadores braçais que não possuíam poder aquisitivo suficiente para adquirir um imóvel nesta área, provocaram as invasões, tanto na área da terceira e quarta fase de ocupação como na área de expansão sul.
A conjuntura segregativa possibilitou emergir um diferencial social, fundado sobre o processo de espoliação que se deu pela distância que os moradores tinham que percorrer do centro administrativo da cidade até a região de Taquaralto e Aurenys de 16 quilômetros a pé ou de bicicletas. Isso se deve pelo não atendimento de linhas de transportes urbano nos primeiros anos de implantação e, logo em seguida pela perca do poder aquisitivo causado por uma baixa remuneração dos trabalhadores braçais, que como forma de sobrevivência submetiam a uma jornada de trabalho de 8 horas e uma caminhada de 32 quilômetros diária, ida e vinda do canteiro de obras. O processo espoliativo ganhou magnitude e a qualidade de vida tornou-se desproporcional entre a área central e a periferia formada.
Já os que não conseguiam uma morada mesmo na Região de Taquaralto, de Aurenys e das ARNOs, ficavam abrigados em barracos feitos de madeiras ou de plásticos pretos, próximo ao Palácio Araguaia. Os barracos não ofereciam infra-estrutura nenhuma, mas, que possibilitaram que moradores desta cidade sobrevivessem nos primeiros anos de implantação da cidade.
Além da discrepância entre a condição de moradia dos trabalhadores, observou-se uma produção estratificada na cidade. Para melhor ilustrar esta afirmativa é bom relembrar que a cidade foi dividida em fases de implantação, um ordenamento territorial planejado, que não tinha intenção de produzir a segregação social, mas, direcionou a cidade para uma ocupação segregada. Isso se deve por causa dos redutos que foram criados, por intentos políticos decorridos principalmente, por reservar quadras para a o alto escalão do governo como a Vila dos Deputados ARSE 14, ARSEs: 12 e 13 e ARNEs: 12, 13 e 14, para médios e pequenos funcionários e empresários: ARSEs 51, 61, 71, 72 e 81, ARSO 41 e redutos dos pobres ARNOs e Vila Aurenys. Vale ressaltar, que as ARNOs viraram redutos de pobres não intencionalmente, mas, por pressão social decorrida por invasão.
A vila Aurenys com um processo diferente das ARNOs, encabeçado pelo governo, refletiu uma intencionalidade ao disponibilizar terras para os construtores, pedreiros, carpinteiros e serventes de serviços gerais e outras classes de trabalhadores braçais nesta área, especialmente após a remoção dos barracos de madeiras até 1995. Posterior a esta data, o mercado imobiliário se encarregou de modelar o espaço urbano de Palmas, dando continuidade a segregação social. Dessa forma, os preços dos imóveis têm tomado uma dimensão variada e oscilados de acordo com a quadra, não submetido à lógica da valorização das áreas centrais, mais de forma dispersa sobre o espaço urbano da cidade.

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